Assisti a apenas uma parte do episódio A internauta da Mangueira, exibida dia 16 de novembro de 2010, parte da série de TV As Cariocas, da Globo. O pouco que assisti me chocou pela naturalidade com que a violência é tratada em uma relação conjugal. De acordo com o que pude ver, pois que assisti do meio do episódio em diante, a história se passava no morro da Mangueira no Rio de Janeiro e o marido, apaixonado por futebol, descobriu que a mulher se comunicava mascarada na internet, com webcam, em poses sensuais, mantendo conversas eróticas com homens.
Um colega internauta do marido o fez ver que a mascarada era sua mulher. Então, seu plano de vingança consistiu em comprar uma arma, levar a mulher ao jogo de futebol do Flamengo, para matá-la depois. No inicio do jogo ele colocou o revólver apontado para a cintura da moça e disse que ela iria morrer depois. Durante o jogo, segundo a narração, por vezes o marido olhava para o corpo da amada e começava a ter consciência do que iria perder. Ela passou o jogo aterrorizada a seu lado.
Ocorre que como o time do coração venceu, ele decidiu perdoar, "afinal foi traição virtual". Assim, abraçou a mulher e eles terminaram na cama, bastante românticos, ambos. Ele comemorou a paixão na janela dando quatro tiros para cima, durante a madrugada.
Até antes do final, o espectador ficava pensando que ela teria uma reação de indignação, que iria depois deixá-lo, enfim, que aquele episódio da arma não fosse ser tão levemente superado.
Apesar de não ter visto toda a trama, achei uma banalização tanto da violência como meio de resolver traição conjugal, como de um machismo primitivo, incluindo também a forma como a mulher foi retratada, como a "safada" e o homem como o macho ofendido, nessa condição, podendo tudo. Ao menos a parte que eu pude assistir passou essa impressão. Em suma, achei de um tremendo mal gosto aquela trama sobre um casal em crise de ciúmes, representado - aliás, muito bem pelos atores, sobretudo o ator.
O casal dispunha de um protocolo radical para resolver problemas: a eliminação física. A pena capital pôde ser suprimida sem maiores problemas diante da alegria do jogo e de um pensamento mais demorado sobre o que seria perdido... E pronto! Esquecida a promesssa fatal pelas cenas de amor subsequentes, fica-se com a impressão de um comportamento naturalizado, por parte de seres brutos.
Evidentemente, a qualidade técnica, a beleza das imagens, sobretudo as imagens do jogo, são sempre do "padrão Globo de qualidade". Tomara que as outras séries sejam diferentes. Pena que tão tarde da noite!
Concordo com vc. Aliás, vê-se frequentemente esse tipo de abordagem na tv. E o povão acaba se identificando e naturalizando o comportamento violento, banalizando-o. Vem aí a questão da liberdade de expressão. Fico confusa. Mas o post está ótimo.
ResponderExcluirAh! Sobre o nome do blog. Pesquisei "Sociologando Online" e não achei no google. Que tal?