quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ainda sobre pescadores

No meio de um turbilhão de compromissos com relatório de pesquisa, viagens, resto de aulas e correções, o que está quase me fazendo suspender o blog, encontro essas palavras do Mario Quintana:

Senhor! Que buscas Tu pescar com a rede das estrelas? 


E ele vem com mais essa:

Mas que haverá com a Lua, que, sempre a gente a olha, é com um novo espanto?


(do livro Mario Quintana. Para viver com poesia. Seleção de Márcio Vassallo. Ed. Globo, 2010)

Pobre da gente que, com a correria da vida, acaba nem olhando para o céu! 
Que perda!

domingo, 27 de novembro de 2011

Pescadores no Encontro da Rede de Estudos Rurais

O Grupo de Trabalho Formas de participação de pescadores artesanais na gestão ambiental: potencialidades e limites, que compõe a programação do 5º Encontro da Rede de Estudos Rurai, objetiva

Promover a discussão sobre a gestão ambiental participativa de recursos naturais comuns, visando uma crítica da teoria e da prática, focando particularmente o caso dos pescadores e pescadoras artesanais em diferentes situações e regiões do Brasil. A discussão contempla pescadores especializados e polivalentes, como os ribeirinhos, extrativistas e agroextrativistas.

O GT se propõe a acolher trabalhos que tratem dos seguintes temas: experiências de participação na gestão territorial e de recursos naturais de populações locais, sejam pescadores exclusivos, sejam categorias que pratiquem outras atividades e estilos de vida além da pesca, a exemplo de ribeirinhos e agroextrativistas; experiências de participação em diferentes territórios e instituições de gestão: comitês, conselhos e reservas ambientais de uso sustentável, inclusive as Reservas Extrativistas e de Desenvolvimento Sustentável; experiências de gestão participativa local na forma de acordos de pesca; análises enfocando a gestão em perspectiva de gênero; análises de formas de associação, organização, ação e mobilização de pescadores artesanais em suas diferentes expressões, em diferentes regiões e situações de conflito, em prol da sua participação na gestão dos territórios e recursos de que dependem; formação dos atores sociais da co-gestão pesqueira; reflexões teóricas e metodológicas sobre os conceitos de gestão participativa, co-gestão, gestão adaptativa e outros que explorem as conexões entre participação e gestão de recursos pesqueiros .

5º Encontro da Rede de Estudos Rurais

O 5o Encontro da Rede de Estudos Rurais será realizado no Campus da
Universidade Federal do Pará, em Belém, de 03 a 06 de junho de 2012,
dando sequencia à construção de uma associação que reune pesquisadores seniores e jovens estudiosos do meio rural brasileiro. Volta-se a compreender, de forma crítica as transformações em curso no mundo rural, com destaque para o lugar dos camponeses e as suas mobilizações sociais, nessas transformações.


O tema geral do Encontro é Desenvolvimento, Ruralidades e ambientalização: atores e paradigmas em conflito. Destaca as profundas alteraçõesconceituais que vêm se acentuando e exigindo tratamento diferenciado noque diz respeito à relação entre ciência, sociedade e natureza. A página do evento é: http://www.redesrurais.org.br/

Cristiano Wellington Ramalho, da Universidade Federal de Sergipe, Naína Pierri, da Universidade Federal do Paraná e eu, Maria Cristina Maneschy, da Universidade Federal do Pará, estamos coordenando o
GT 8: Formas de participação de pescadores artesanais na gestão ambiental: potencialidades e limites. 

O prazo para envio de propostas é 16 de janeiro de 2012.

domingo, 20 de novembro de 2011

Uma forcinha contra a divisão do Pará

Agrego à mobilização contra a divisão do Pará, a determinada negativa de um estrangeiro. Pena que, ainda que vença o não - tomara! - não se trata de vitória, mas de evitar andar mais ainda para trás no desenvolvimento deste nosso rincão brasileiro. 




sábado, 12 de novembro de 2011

Sobre a divisão do Pará e os royalties do petróleo

Com o início da campanha eleitoral sobre a divisão do Pará, pode ser que nestas bandas alguma mobilização efetiva passe a ser vista. Para a maioria da população, na batalha diária, o sentimento de rejeição à divisão parece prevalecer; talvez até cresça a rejeição com a aproximação da data do plebiscito. Mas, sem grande empolgação, na medida em que, como indaga e responde a propaganda pro-divisão, o que vai mudar? Nada. Os argumentos pró-divisão em três estados apontam na mesma direção de mudanças insignificantes salvo que, neste caso, haveria uma grande perda de recursos para o Pará remanescente. E, segundo estudos sobre o tema, as novas unidades serão deficitárias. Ademais, sem aumentar a renda, para elas as novas funções de governo trarão pesados custos adicionais, problema que se amplia pela pouca transparência dos gastos públicos. Vale citar dados relativos ao Fundo de Participação dos Estados (FPE), analisados por Eduardo Costa em seu blog, na postagem Crônicas sobre o separatismo:

... com base na legislação vigente o estado do Pará teve direito a uma cota de R$ 2,3 bilhões em 2010, referente a cota definida em lei de 6,11% do bolo repartido. Havendo a divisão e mantido a atual legislação, os três estados (Pará, Carajás e Tapajós) dividirão esta fatia, sem aumento, portanto, do volume de repasses. 

São números incontornáveis. É também importante notar que não se está propondo mudanças substantivas na gestão dos novos territórios. Por exemplo, o que se prevê em formas participativas de governo? O que se propõe como modalidade de desenvolvimento territorial, que contemple a diversidade social e ambiental das distintas microrregiões? Como se está atacando a forte dependência da economia a algumas commodities (madeira, minérios, soja...) e o padrão tributário que penaliza rotineiramente a sociedade?

Enquanto isso, a discussão sobre os royalties do pré-sal, que questionam a solidariedade social da federação, o "pacto federativo", não nos anima. Agora, os governos dos dois principais pólos produtores, Rio de Janeiro e Espírito Santo, sabem fazer barulho. O contraste é gritante com o silêncio que costuma caracterizar os governantes e os representantes do lado de cá. Minério não se compara com petróleo, claro, o que contribui para reafirmar a invisibilidade ou irrelevância paraense no cenário político nacional. A moeda da conservação ambiental não tem quase curso nos mercados atuais, daí a irracionalidade que marca muitos usos da sua base de recursos naturais. Não obstante, as receitas de exportação amazônica atendem muito claramente aos interesses econômicos externos também, reforça a balança comercial, desde a colonização. Sem falar nos custos sociais da geração de energia.

O plebiscito não representa, pelo menos até agora, um momentum para debate coletivo sobre nossa organização social e política, sobre seu padrão de gestão pública e de redistribuição de renda, a começar dentro do próprio Estado.

Propagandas sobre feias

Na mesma linha da piada assunto da última postagem, topei com a seguinte propaganda em um cartaz de uma revendedora Peugeot em Belém. Ladeada por duas figuras femininas de biquine, uma magra e uma gorda, desponta a frase seguinte: Quem você levaria para uma ilha deserta? a top model ou a sogrona? Compare: Faça o mesmo na sua garagem.
Difícil acreditar que quem criou a publicidade pense em atrair consumidoras para os carros.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Piadas sobre feias

Ultimamente as piadas, pelo menos na TV, têm se voltado com especial frequência para as mulheres feias. Fazer piada sobre atributos corporais não é novo. Remonta ao nascimento das piadas. Mas, por que as feias entraram em alta agora no mundo das piadas para o grande público? Nem imagino. Tivemos há pouco o caso Rafinha. Ontem, as feias ganharam novo holofote, embora o conteúdo nada tenha a ver com a imbatível marca de mau gosto da piada sobre o estupro, que até na categoria humor negro era ruim.

No quadro Stand up nosso de cada dia, no programa Fantástico do último domingo, o assunto era "cantada de rua". A comediante Micheli Machado iniciou sua fala - que, diga-se de passagem, teve momentos de humor fino - com a seguinte questão:

Por que é que todo homem na rua olha pra toda mulher que passa? Se fosse só pra mulher bonita, ainda vai, porque a gente também olha pros homens bonitos. Mas homem não, homem não seleciona, teve peito e bunda, já está olhando. Olha. É bonita, é feia, tribubu, exótica...

Admite-se que esse tipo de observação dá humor, há quem goste. Mas, nessa lógica, se os homens não discriminam no olhar de macho, por que a moça se incomoda com isso? E, a julgar pelos risos, agradou. Pena. Por que não ser mais democrático no gosto?

Não pude deixar de lembrar dos quadros envolvendo anões, também um antiquíssimo recurso para fazer rir. Sempre me provocou um sentimento misturado, mais incômodo que graça. Sei que isso dá emprego, chances de aparecer, diverte alguns, certamente muitas justificativas existem para usar anões em papéis ridículos. Mas, no fundo, desconcerta, porque o engraçado aqui é a imposição, ou validação da característica da maioria sobre a minoria. Embora neste caso, trata-se da maioria em sua condição de massa, de gado.

A gente não precisa lembrar sempre da vida real ao escutar uma piada. Tira toda a graça. Por exemplo, lembrar de cenas na rua de homens cujos olhares para outros passantes, sejam homens ou mulheres, não são apenas elogiosos ou engraçados, mas também debochados, quase agressivos, quase uma reprovação a determinado modo de se trajar, ou andar. E esse olhar pode se traduzir na liberalidade que o olhador se dá de tocar, até de "passar a mão" em uma pessoa desconhecida. Prática triste. Concordo que certas realidades não precisam ser lembradas e interferir no consumo da piada. Basta rir. Mas bem que as piadas podiam ser um pouco mais imaginativas!