segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Um aniversário de 80 anos e algumas lições

Sexta-feira passada tive a honra, junto com meu companheiro, de ser convidada ao aniversário de 80 anos da Dona Catarina, mãe de uma amiga, que comemorava a data com seus oito filhos e filhas, muitos netos e já alguns bisnetos que a descendência da minha amiga já "produziu". 

O que me motiva a escrever sobre a festa - uma comemoração ainda incomum, apesar do aumento da expectativa de vida - foi a vontade de registrar que a saúde, a vitalidade e a alegria da aniversariante e dos seus provam mais uma vez que é uma felicidade e uma graça alcançar essa idade. Imersos nos problemas e frustrações cotidianos, muitas vezes contabilizando perdas, ou caindo numa das tantas barreiras no caminho, esquecemos que um dos objetivos nossos não é só viver, sobreviver, usufruindo e conseguindo. É, em uma medida importante, o que se quer comemorar caso presenteados com essa generosidade da vida e chegar tão longe (e com a memória e o coração em forma; coração, bem entendido, o músculo e o guardião dos afetos).

E, então, a gente fica sabendo de alguns detalhes da biografia da aniversariante, cujos parentes faziam também a alegria contagiante daquela festa quase sem álcool (só um pouquinho, bem discreto, trazido providencialmente para os mais renitentes apreciadores). Casada jovem, como convinha aos usos da sua época, sem grandes estudos, foi deixada após dezoito anos de casamento, com os filhos quase todos por terminar de criar. O marido havia sido pródigo em se apaixonar por outras durante o tempo em que o casamento durou. Imaginei, então, o que terá custado à aniversariante em trabalho, dedicação, esforços, negação dos próprios desejos para cuidar da prole. Soube, também, que uma de suas filhas adquiriu há muito tempo uma doença crônica que lhe traz grandes limitações. As várias poses para as fotos durante a festa, sobretudo aquelas em que ela figurava cercada dos netos, evidentemente com as risadas e barulhos típicos do encontro de uma família numerosa, fazia pensar no quanto aquele momento compartilhado dependeu da garra da aniversariante para atravessar longos anos sem o cônjuge para dividir tristezas e conquistas, pequenas e grandes. Ou seja, quantos e quantas teriam talvez sucumbido a uma depressão, atravessado a vida com amertume, reações compreensíveis, humanas.

Então, penso que o aniversário da Dona Catarina, "chefe" altiva de sua grande descendência ali reunida, junto com amigos, era também: uma comemoração à força pessoal e à capacidade de construir e manter uma família que se identifica e se relaciona como tal - como diminui o tamanho das famílias, novos desafios para se fazer laços duradouros; uma comemoração à oportunidade da vida plena, não propriamente pelos bens ou reputação profissional, mas pelos laços que se pôde tecer e pela chance - rara - de um dia poder avaliar, olhar para trás, lembrar dos que foram e dos que estão, e partilhar o dom da vida (aqui se encaixa bem a expressão religiosa). E, especialmente, a chance de agradecer. 

Um comentário:

  1. Cristina, muito obrigada por suas palavras. Linda homenagem para minha mãe. Beijinho carinhoso de agradecimento.
    Fui lá com o Emérito. Cheguei há pouco, ficamos, Sonia, Raul e Edma conversando e rimos um bocado.

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