quarta-feira, 13 de julho de 2011

Efeitos das redes sociais

Ontem tive um grande apoio do mecânico que atende minha família há alguns anos, um apoio gratuito, pois ele me acompanhou durante toda a  manhã para comprar uma direção hidráulica. No percurso, lembrei-me que cheguei a esse mecânico por indicação de um colega de trabalho. Na perspectiva sociológica, digo que tive acesso a um recurso através de minha rede social, um recurso que estava imerso nessa rede, que eu não disporia sozinha, ou poderia até dispor com bem mais dificuldade. Com sorte, eu conseguiria logo chegar a um bom profissional procurando em catálogos ou na internet, sem  levar os esperados canos. A recomendação do mecânico pelo colega, acompanhada da dose de confiança que tenho por ele, poupou dissabores e me rendeu uma ajuda inesperada ontem.

Quanto, nas nossas movimentações de rotina, dependemos das nossas redes pessoais, formadas por laços próximos e distantes, com efeitos que se estendem no tempo e no espaço? São as redes informais, nas quais circulam bens e serviços, mas também dádivas e reciprocidades. É claro, nas redes há sentimentos de pertencimento, afinidades, simpatias pessoais, lealdades também. Mas esses não são ingredientes inevitáveis, pois nos laços mais periféricos de nossas redes, pessoas que apenas "conhecemos", ou nas redes às quais se vinculam os nossos contatos, os amigos de nossos amigos, também podem estar imersos recursos que vão se mostrar essenciais num dado momento, tirando-nos de uma enrascada, até nos conduzir a um emprego por exemplo, como observou Mark Granovetter, um dos principais teóricos da análise de redes sociais.

Nossa vida, portanto, depende de uma miríade de intervenções dos elos das nossas redes. E, assim, também nós contribuímos, consciente ou inconscientemente, de maneira gratuita ou interessada, para muitos outros a quem estamos ligados. Isso foi magistralmente ilustrado no cinema em A Felicidade Não Se Compra, de Frank Capra.

Com as novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), nossas redes crescem em número de elos. Em que sentido nossas redes virtuais mesclam-se com nossas redes "presenciais"? Em que medida os interesses formais e objetivos que frequentemente induzem à formação das redes virtuais podem se transmutar em sentimentos de afinidade pessoal, incorporando as dimensões de reciprocidade, dádiva e sentido de pertencimento e lealdade com os demais elos? Isso é positivo do ponto de vista do balanço que conseguimos estabelecer entre nossas relações mais próximas - família e amigos principalmente - e as relações mais formais, "uniplex"? Uniplex, um termo da análise de redes sociais, são aquelas caracterizadas por um objetivo principal, a exemplo de uma relação de trabalho, ao passo que as relações multiplex envolvem conteúdos variados, como quando encontramos nossos colegas de trabalho na esfera do lazer, do esporte ou de um trabalho voluntário.

http://fgonit.blogspot.com/2009/10/as-redes-sociais-como-factor.html

Mais contatos significam mais tempo para mantê-los, para alimentá-los, salvo se, numa perspectiva estratégica, consigo otimizar meus laços sociais, mantendo bons contatos com pessoas que, por sua vez, possuem conexões chave para meus interesses, ao invés de dispersar meu tempo em ligações que não serão todas "úteis". Há uma literatura que enfatiza esse sentido instrumental das relações. Ela também discute o dilema de que, cotidianamente, as conexões mais eficientes são justamente aquelas estabelecidas sem a perspectiva instrumental, que se nutrem da gratuidade e do desinteresse. 

Muitos outros aspectos entram em jogo quando se pensa em termos de redes sociais. Um deles, o significado das relações informais entre pessoas e grupos muito desiguais em poder ou recursos. As redes pessoais, nesses casos, poderão ser ingredientes de estratégias de dominação, como ocorre no velho clientelismo ou paternalismo. Assim como redes implicam inclusão, elas também excluem: quem não é "dos nossos", quem não foi indicado por alguém, quem é isolado, quem não tem um "capital de relações".

Voltando ao episódio que vivi ontem, é bom de vez em quando a gente se perguntar em que proporção somos, representamos ou disponibilizamos recursos para outrem, comparativamente ao que recebemos, pedimos ou necessitamos dos nossos pares nas redes sociais.

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