sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Sobre o texto do Jornalista Lúcio Flávio Pinto: "Carajás é chinês" e a não inserção de uma empresa na sociedade

É incrível pensar que Lúcio Flávio Pinto é uma voz quase isolada, mas poderosa, ao questionar a função social da empresa Vale do Rio Doce que tem no Pará uma enorme fonte de riquezas. Incrível porque não deveria ser uma única voz, mas um movimento social a contestar esse padrão colonial de desenvolvimento que se moderniza, mas não se altera em seus pressupostos. Inclusive, se moderniza na face publicitária, pois as propagandas da empresa são hiper bem feitas, otimistas, progressistas, felizes... Suas reflexões têm uma importância que não se resume ao papel dessa empresa em particular, mas toca na substância do padrão de crescimento econômico global, no modo como se realiza aqui. Por que não se discute publicamente os compromissos da mineração com a sociedade, tal como se quer fazer com o pré-sal? Clique em "Leia mais" para saber.


No Jornal Pessoal da segunda quinzena de outubro de 2010 (p. 5), após apresentar os números astronômicos do faturamento da empresa este ano, que tem se beneficiado especialmente do crescimento chinês em sua voracidade por minérios, ele conclui: "Não surpreende que este ano, se o desempenho do 3º trimestre se repetir no último período, pela primeira vez a produção de Carajás vá superar 100 milhões de toneladas (...) Esse dinheiro todo é recolhido aos cofres da empresa, que se abarrotam. Nada é repartido com o Estado no qual essa empresa existe, mas está sendo transferido para o outro lado do oceano em velocidade que corresponde a verdadeira sangria desatada. Mais três décadas e só nos restará chorar no fundo no buraco no qual ficaremos".
Lendo o texto de Lúcio Flávio, aprende-se que o teor do minério de Carajás em hematita é de 66%, o que é altíssimo. A importância disso, explica ele, é que além de propiciar um ganho extraordinário à empresa, esse teor faz com que o minério de Carajás chegue à Ásia com margem de lucro que supera o minério da Austrália, que está ali perto. Justamente devido à qualidade do ferro extraído aqui.
Em seus textos, ele sempre bate na tecla da inserção social da empresa, isto é, de fato é a não inserção, pois ela é movida a mercado e está apenas situada aqui, não enraizada aqui, embora das raízes desta terra extraia sua mercadoria.
Como se trata de um produto extrativo, por que não se discute e decide publicamente o destino dos royalties como se está a fazer, ou a tentar a fazer com o pré-sal? Deveria haver um "marco regulatório" também desses recursos minerais. Afinal, são ainda recursos comuns e, portanto, da sociedade, mesmo que retirados da terra por processos técnicos privados.
A maioria da população sofre todo dia para encontrar um atendimento médico público digno em Belém, quanto mais nos demais municípios do Estado! As pessoas relacionam-se com o sistema público de saúde na condição quase de pedintes, dependentes... E o que sai pelas ferrovias daqui contribui para industrializar a China e para os ganhos da "maior multinacional brasileira"! Merece ser lida outra frase do autor: "Todos vêem o gigante que ela [empresa] é, mas não se apercebem do seu dedo, onde está a sua digital".

Nenhum comentário:

Postar um comentário