terça-feira, 1 de setembro de 2020

Ensina-me a mudar a lua

Ensina-me a transformar a lua,
A fazê-la mudar de substância!
Quando estavas em minha alma, residente
A lua tinha outros sentidos.
Ela era luz suave
A cor exata do silêncio
A profundidade da calma.
Sua luz no canto do quarto
Me transportava, imediatamente,
A ti, a nós.
E eu vivia o privilégio dos amantes...
Esses seres sabiamente loucos
Que se embelezam ao se olharem um ao outro.
E então,
Cruzando as distâncias oceânicas,
Te tocava
Te acariciava.
Acesa em doçura,
A noite se tornava um poema.
Palavras de um coração alegre,
Ornado de esperanças e desejos.
E de projetos! E promessas!
Antes da inocência ir-se embora.
Hoje, em solidão
Devolvo-a, agradecida
Ela, a suave lua
A sua condição astronômica
Satélite natural do planeta
Mestre de todas as marés.
E, igualmente,
Farol dos pescadores,
Companheira dos marujos,
Conselheira das embarcações.
Ensina-me, ex-querido,
Destino passado das mais belas viagens
Alvo da felicidade que eu guardava
Cada vez que preparava as malas.
Ensina-me, ex-querido,
Professor das noites estreladas,
A despir a lua
De sua magia de ontem.
Ensina-me, então, meu ex-amigo
A apagar aquilo que eu lia na lua...
Tudo que nela eu via,
Via através de ti!

Paysages du ciel

 Le ciel vu de ce balcon m’enchante

Au dessus d’un horizon fait de contrastes

Où ciel et terre semblent se contredire.

Des mille nuances aux crépuscules

Aux nuages de plomb avant les pluies

Encore lignes roses, violettes et bleues

Que je surprends lors des nuits blanches.

Comme des tableaux vivants

Dessinés quotidiennement

Et je me dis, est-ce que peut-être

On les râte un peu trop souvent?

On se fait tort de les laisser passer

Sans jouir leur sublimité

Comme des scéances d’après-midi manquées...

Les paysages du ciel auraient-elles le don

De nous parler de nous ici, en bas? 

De nous saisir des paroles lointaines

Porteurs de vieilles sagesses?