quinta-feira, 18 de março de 2021

Dias de sondar o céu

 

Nestes dias de solitude

Acostumei escrever sobre o céu

A propósito dos crepúsculos

Vez por outra das auroras

 

Ensaio interpretar suas cores

E ver nas nuvens desenhos

Que sugiro serem dádivas

À cidade distraída

 

Hoje a tarde foi de chuva

As cores se atenuaram

Como de hábito sondei mensagens

No azul e no cinza, sinais

 

O que vi foi mais distante

Estradas e mares adiante

Lá onde um dia deixei

Lá onde um dia encontrei

Um trecho do coração




Aujourd'hui j'ai envie d'écrire

 

Aujourd'hui j'ai envie d'écrire
Trop de silence
Les couchers sont gris​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​
Où les couleurs éclatantes
Des tous printemps​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​?​​​​​​​​​
Pas d'amour
Pour orner le coeur
Aucun désir de lui
De son corps
Et de sa voix
Traversant la peau
Jusqu'à confondre l'âme:
Quel est la part de chacun
Dans la plongée ensemble
De l'acte d'amour?
Aujourd'hui la pluie
Le silence compagnie
Le désir lancé en l'air
Vers les dessins du ciel...


Hoje quero escrever

Faz muito silêncio

O pôr do sol está cinzento

Onde achar as cores vibrantes

Dos verões?

Sem o amor

De ornar o coração

Sem desejar

Seu corpo e sua voz

Cruzando a pele

Até confundir a alma:

Qual é a parte de cada um

No mergulho juntos

No ato de amar

Hoje a chuva lá fora

O desejo é lançado

Rumo aos desenhos

Feitos no céu.

O perdão, a misericórdia e o amor

Uma das mais belas páginas dos Evangelhos traz a Palavra sobre a mulher adúltera que, pela lei, se deveria apedrejar - e que Ele não condenou - contrapondo-se assim à lógica humana. Esse episódio, juntamente com aquele sobre a atitude do pai que recebeu o filho pródigo com imensa alegria, independente do que tenha feito enquanto esteve longe, tem muito significado hoje. O Mestre indica o que é nossa tendência profunda: o amor, o perdão e a plena consciência de nossa condição igual de filhos, filhas, irmãos, em uma vida que vai além desta. Conscientes de nossas fragilidades comuns, mas ao mesmo tempo, de nossa grandeza. Todos temos grandezas. Além disso, somos chamados a esquecer o passado, a olhar para a frente, a perdoar a si e aos outros, porque a vida nova se abre a todo instante. Vida nova nessa perspectiva, liberta das mesquinhezas humanas, inscritas na nossa lógica cotidiana. No caso da adúltera, faríamos a condenação, talvez inclusive chamando o homem adúltero para tornar equitativa a pena. No caso do filho pródigo, iríamos primeiro condena-lo por seus erros, ainda que o acolhendo com alegria. Jesus considerou o pecado, mas amou a pessoa. Não castigou. Não castiga. E castigos, cabem a Deus, como lhe aprouver, não a nós! O que a experiência narrada nos Evangelhos mostra é o perdão, o amor.

Também fez parte das leituras de hoje, esse trecho de Paulo, a reforçar também a novidade dessa forma de sentir, pensar e agir. Diz ele: Irmãos, eu não julgo tê-lo alcançado [a Cristo]. Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente... (Filipenses 3, 13-14). Ao compartilhar esta reflexão da leitura de hoje, não pretendo fazer proselitismo, ou me considerar à altura daquela sabedoria mais que milenar. Jamais. Nunca. É só para dividir mesmo e convidar a folhear aquelas páginas cuja mensagem ainda fala ao coração, chamando por mudança, por tolerância, por respeito às pessoas em suas diferenças e integridade.

Independente de qual seja nossa fé, ou falta de fé, eu acho que essas páginas são uma fonte de conhecimento do que somos e do que podemos vir a ser, como pessoas, como comunidades, como sociedade. O que somos se manifesta, por exemplo, no drama dos imigrantes que os países europeus hoje não querem, que as leis vedam a entrada. Como o Mestre - e mestres de outras denominações religiosas - agiria nesse caso? E em tantos outros casos nos quais nos relacionamos como estranhos. Ainda não aprendemos com aquele samaritano justo - vejam só, membro de um grupo étnico desvalorizado socialmente na época - ele que verdadeiramente acolheu o próximo que havia sido assaltado...