quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Migrações nos enriquecem com as diferenças

O que seria São Paulo sem os italianos, japoneses, sírio-libaneses e tantos outros? A agricultura do Pará sem os japoneses? ... O que seria o Brasil sem tanta contribuição estrangeira? E o que será dos cidadãos brasileiros vivendo em outros países, tantos, com a saída do Brasil do acordo internacional sobre migrações, no quadro da ONU? O documento traz recomendações, não obrigações, para uma melhor gestão das migrações no mundo. Todos nós que temos no sangue e, muitas vezes no nome, marcas estrangeiras, temos obrigação de analisar o tema das migrações, em princípio, com reconhecimento e solidariedade. O que o Brasil ganha? E o que perde? A sociedade brasileira trata bem seus nacionais? Orgulha-se de seus indígenas? Tratar o tema com divisionismo e ressentimento é lamentável.

A barragem e nós todos

Leio estarrecida que a tragédia da barragem tem a ver com a ganância do PT! Que louco! Governos que mais criaram unidades de conservação e respeitaram as terras indígenas foram dessa legenda. Tais críticas são incapazes de ver que nossa economia de consumo exacerbado requer mais e mais minérios...E as desigualdades sociais aceleram o consumismo, enquanto tantos outros carecem do básico. Nesse quadro, Trump, nosso governo e muitos outros continuam a separar economia e ambiente, o que é trágico. Reflexo disso: as ameaças a terras indígenas. Terras indígenas, protegendo florestas, protegem também o futuro. Precisamos olhar para nosso próprio modo de vida! A agroindústria precisa da floresta amazônica. Agrotóxicos são perigosos. E nesse aspecto, andamos na contramão do mundo. De muitas formas contribuímos para depredar nossa casa comum.

Brasil sem ideais?

Na política dominante no Brasil há ausência absoluta de ideal. O primeiro ato do novo governo foi negativo: armas! Armar é desistir do diálogo e da busca de consensos sobre que Brasil queremos. Falar "Brasil acima de todos" e, sobretudo, em "Deus", requer tratar as desigualdades. Se é para falar do Mestre de Nazaré, sem demagogia, os mais vulneráveis desse Brasil deveriam merecer especialíssima atenção dos líderes. País sem cidadania é uma noção pobre, pura formalidade. Mas, nós mal sabemos o que significa o Brasil como uma sociedade. Tememos o risco em cada esquina, a Venezuela e um comunismo inexistente! Somos ignorantes ao engolir aquela ração com produtos perto de vencer para escolas públicas, proposta pelo último prefeito de São Paulo. É o poder público "oficializando" a hierarquia social. Pior: definindo crianças de segunda classe para as quais se destinam quase restos, elas que são justamente o futuro... O mesmo acontece agora com a ideia da universidade para a elite esclarecida. Os fatores que impedem tantos jovens de realizarem seu potencial e inteligência truncam a formação de algo que se possa chamar verdadeiramente de elite. Nossos ricos adoram a Europa, mas lá não há nossas desigualdades e o respeito mínimo a cada pessoa é infinitamente maior que entre nós. Basta colocar o pé em uma faixa de pedestre em Paris, para experimentar o que é ser pedestre! Nosso Brasil, nossos dirigentes, nós todos abrimos mão de acreditar e sonhar o futuro: nada de progresso, nada de desenvolvimento sustentável... Em pouco tempo nem mesmo as garantias das comunidades indígenas estão asseguradas. Assim, esse "Brasil acima de todos", não tem substância, não implica em planejamento ou missão. Até a velha ideia de Justiça e de Estado democrático de Direito perde vitalidade. Entre nós, preferimos falar de "vitimismo" do que de inclusão! Que horizonte raso! Ainda bem que o mal é passageiro! Tudo passa. O essencial da vida, e da vida coletiva, está além. Suas raízes profundas fincam-se nos melhores valores de nossa civilização: amor, caridade, justiça, liberdade, reconhecimento, Direito...