quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Paisagens desarticuladas


Dois destaques apresentados hoje no jornal televisivo de maior audiência, Jornal Nacional, foram: as secas no sudeste do país e a tramitação do Código Florestal, ou melhor, da Medida Provisória do Código, aprovada na Câmara Federal e que seguirá para o Senado antes de ir à sanção presidencial. 

1) Sobre as fortes secas, imagens marcantes foram feitas em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, onde certas regiões penavam sem água há 15 dias; e Goiânia, também sujeita às secas a ponto de escolas serem fechadas. E a explicação, pelo menos para o RJ, era que os reservatórios naturais haviam baixado perigosamente com a estiagem.

2) Sobre a aprovação da MP do Código Florestal, o representante da Frente Ruralista, entrevistado, arriscava dizer que Dilma não vetará o texto, uma vez que ele foi aprovado por unanimidade. Um representante dos ambientalistas, Sarney Filho, clamava que o veto da presidente a alguns artigos, ao contrário, é necessário. Na matéria explicou-se que o texto aprovado admitia uma superfície de reflorestamento de áreas marginais a rios, por parte dos proprietários dessas terras, menor do que originalmente o governo gostaria de fazer constar no texto. 

Entre as duas matérias, a meteorologia tratou, ainda, das cheias de ontem no Sul, acompanhadas de geadas. Tempos complicados!

De olho na "telinha", nesta região de fartas águas, uma sensação de agonia impotente me veio, com a lembrança de uma função importante que a cobertura vegetal amazônica cumpre, segundo estudos, na regulação dos ciclos de chuvas no restante do país. 

Derrubadas às margens de rios e o enfraquecimento das medidas de conteção... As florestas relacionadas a chuvas como recurso comum, da sociedade brasileira, e a liberdade dos ruralistas nos limites de sua propriedade... Nada a ver com a mudança no Código Florestal? Nenhuma relação? No noticiário, com seu formato padrão, a relação não apareceu. 

2 comentários:

  1. Não é todo profissional que tem a capacidade e o interesse de fazer as conexões devidas entre diversos fenômenos.
    A fragmentação cartesiana, tão útil para desenvolver o conhecimento, coloca-se como obstáculo para entender a complexidade da realidade e suas múltiplas interconexões.
    Que bom que voltaste.

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  2. Acho que esse comentário devia ir para nossa colega que atualmente leciona essa característica da metodologia científica. Obrigada pelo comentário.

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