segunda-feira, 25 de junho de 2012

Uma tese sobre o Pará rural e sua dedicatória

Foi defendida hoje na Universidade Federal do Pará, em Belém, uma tese de doutorado em Ciências Sociais sobre o "processo de ambientalização da ação pública na região do Xingu". Nesse espaço inclui-se a Terra do Meio e a área de influência da UHE de Belo Monte. O foco do autor, Mario Henchen, são os movimentos sociais de grupos camponeses, em particular as ações de suas lideranças, os chamados mediadores camponeses. Considera desde as famílias de agricultores que vieram se instalar ao longo da Transamazônica nos anos 1970, até as atuais configurações organizativas que se desdobram em projetos de desenvolvimento sustentável, reservas extrativistas e seus mecanismos de gestão participativa (conselhos, comitês, fóruns), passando pelos sindicatos, associações, fundações, ongs de apoio etc. E inclui, também, articulações novas com grupos indígenas e comunidades ribeirinhas. Se nosso mundo fosse outro, esses grupos poderiam ser motivo de um "orgulho" nacional ou regional genuíno: testemunhos de uma população multicultural e pluriétnica que existe no Pará em tempos de globalização, grupos de quem se passou a saudar, pelo menos no discurso, os saberes ecológicos e a racionalidade ambiental.
  
As articulações que o autor discute partiram de horizontes culturais muito diversos, mas sobre um solo comum no qual foi preciso aliar a segurança do direito à terra com a preservação da natureza. Em suma, envolvem categorias sociais que assumiram o ideário do desenvolvimento sustentável, produzir e preservar, no pano de fundo dos desmatamentos, da pecuária extensiva, de precário acesso à saúde, à educação e ao saneamento, de grandes obras tocadas sem planejamento à altura dos impactos, processos que renovam conflitos e também reavivam a face violenta de um Brasil profundo que não é só passado. A página de dedicatória do autor homenageia líderes que foram mortos de 2001 para cá. Essa conta humana continua sem fechar. 

Um comentário:

  1. Parabéns ao Mário! Infelizmente, por motivo de trabalho, não pude ir à defesa. Espero que logo o texto esteja à disposição.

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