quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sobre 31 de março

Faço esta postagem inspirada por blogueiros que fizeram análises certeiras no dia certo (blogdoflavionassar.blogspot.com e yudicerandol.blogspot.com, por exemplo) sobre o "estranho" convite de militares para cerimônia do 47º aniversário da "revolução democrática" - o 31 de março. Há, também, a matéria de capa da revista Carta Capital esta semana, intitulada O Fantasma Fardado, questionando a atitude de militares em 2011. Por isso, é oportuno lembrar a história da brava Zuzu Angel que perdeu um filho assassinado em prisão nas dependências do Exército, em 1971.  Sua história foi retratada no filme de Sérgio Rezende. Lembro-me de uma passagem em que ela conversava com um militar no quartel onde procurava notícias do filho. Seu argumento baseava-se na civilização que os mesmos governantes diziam defender. Dizia mais ou menos assim: admitamos que meu filho fez algo errado; ele merece um julgamento normal, ter sua prisão decretada e conhecida, eu poderia vir trazer uma maçã para ele. Apontava inutilmente, para um oficial, a ilegalidade do regime que apregoava defender uma missão. A música que Chico Buarque fez quando de sua morte captou, antes de tudo, o sentimento da mãe à procura infinda:    Quem é essa mulher Que canta sempre esse lamento Só queria lembrar o tormento Que fez o meu filho suspirar (...) Só queria agasalhar meu anjo E deixar seu corpo descansar.
Aniquilar fisicamente opositores incômodos é prática antiquíssima, mas tende a ser contida com a emergência das democracias baseadas em direitos, notadamente em direitos humanos. Uma característica de regimes  ditatoriais é, precisamente, lançar mão desse recurso como política estatal e paraestatal, mesmo que oficialmente haja leis contrárias.
Outra característica de regimes ditatoriais é arvorarem-se em defensores da moral e dos bons costumes e, portanto, reprimirem fortemente os "desvios" culturais. Isso não ocorre mais no Brasil que envereda pelo caminho do reconhecimento multicultural e étnico. 
Não obstante, em 1 de abril deste mesmo ano, em Minas Gerais, membros de torcida manifestaram preconceito  contra um jogador de vôlei assumidamente homossexual. As cenas da partida na TV, quando se ouvem os gritos contra o jogador, ilustram um sentimento primitivo animando uma massa de espectadores.
No Brasil de hoje, espantam as manifestações de apreço a um regime de exceção, assim como espanta uma reação coletiva de puro preconceito. Parecem anacronismos, mas pelo visto não são.

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