segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O gari e a cracolândia

No atual processo de desocupação do lugar chamado cracolândia em São Paulo, chamou-me a atenção no noticiário de três dias atrás, a resposta de um gari entrevistado quando efetuava a limpeza de um aposento que servira de abrigo para consumidores de drogas que moram, ou passam muito tempo ali. Um volume indizível de detritos, absoluta falta de higiene. Naquele quadro, o repórter perguntou ao rapaz, que portava uma máscara de proteção da boca e do nariz, o que achava de espaço tão inóspito servir de moradia. Ele virou-se para o outro lado e, por um instante, deu a impressão de que não iria responder. Após uma breve reflexão a resposta veio firme:
- É o sistema. A culpa disso aqui é do sistema. Se tivesse educação para os jovens, um lugar desses não existia.
Uma resposta inesperada, porque fez de imediato uma crítica política ao invés de se deter no lugar, alvo da questão e da tarefa que lhe ocupava no momento. Resposta genérica por certo, mas certeira. Aquele lixo ali, material e humano, tem uma conexão com os arranjos sociais mais amplos da cidade, do país. As políticas sociais e a educação tecem alguns dos fios dessa rede que inclui a cracolândia.

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