terça-feira, 15 de março de 2011

ESSES GRANDES EVENTOS DA NATUREZA

Nos últimos tempos somos confrontados com muita frequência a eventos naturais de enormes proporções, com a dolorosa marca de tirar rapidamente milhares de vidas humanas. Só nos últimos dias, os terremotos na Nova Zelândia e no  Japão, cujos sistemas de prevenção e de treinamento da população são celebrados mundo afora, com justa razão; mas a força das águas deixou pouca margem de manobra na zona de influência, de modo que os  alarmes não foram eficazes. Sem eles, pior teriam sido os resultados. 

Esses fenômenos suscitam questionamento e reflexões em vários sentidos. Desde logo, sobre a vulnerabilidade da vida e a instabilidade do praticamente único ambiente até agora conhecido que a tornou possível, a Terra. Ela reúne condições de relativa estabilidade a ponto de possibilitar as reações químicas que engendraram a vida em sua exuberância terrestre. São tênues essas condições, como se vê, e a Terra tem um caráter especialíssimo entre seus pares.
http://cafecomciencia.wordpress.com/2009/06/
http://www.cepa.if.usp.br/energia/
energia1999/Grupo4B/Eneralte/Terra.htm

As placas tectônicas estão a lembrar a   história geológica dentro da qual se inscreve nossa história humana, em uma porção ínfima face ao diâmetro do globo.  Sempre é admirável o que se construiu nesse espaço que parece um "detalhe" no conjunto das proporções planetárias e galácticas. 

Uma parte notável dessa história diz respeito ao conhecimento sobre o meio natural. A confiança no saber e na  autonomia e capacidade construtiva dos homens e das mulheres, com a ciência e a tecnologia,  marcou o que se chamou de modernidade. Visivelmente, chegou-se a níveis de conhecimento e de avanço tecnológico sem precedentes. O saber é cumulativo. Mesmo quando mudanças revolucionárias ocorrem, novos paradigmas teóricos, há sempre a inevitável contribuição  das gerações  passadas, séculos de trabalho e inventividade, a exemplo das construções japonesas que, desde tempos medievais, são estruturadas com determinado grau de mobilidade de modo a resistir a terremotos.

Diversos analistas têm criticado a falta de limites nas obras humanas, em desacordo com os conhecimentos ambientais de que se dispõe. Não há responsabilidade social  sobre terremotos, tal como pode haver sobre o aquecimento global. Mas, é  evidente o  pouco cuidado na gestão da ocupação e dos usos ambientais. São as ocupações  em encostas, empreendimentos  em áreas de riscos, mangues e matas ciliares derrubados, pesca predatória etc. Assim, é igualmente notável que tudo o que se sabe hoje sobre o meio ambiente, inclusive o que se sabe sobre a ignorância  humana frente à complexidade do "mundo natural", enfim, esse crescente conhecimento não se acompanha de maior capacidade adaptativa às coerções do meio. 

E nesse sentido, vale a pena lembrar algumas abordagens críticas sobre a modernidade que acentuaram seu caráter paradoxal. De um lado, a liberdade propiciada pela razão e pelo trabalho e, de outro, a prisão às formas e padrões construídos, autonomia e heteronomia caminhando juntas na história. Os filósofos Adorno e Horkheimer, no Texto Dialética do Esclarecimento, argumentaram sobre o que movia a busca do conhecimento  na sociedade capitalista: O que os homens querem aprender da natureza é como aplicá-la para dominar completamente sobre ela e sobre os homens. Assim, concluíram: De meio de emancipação humana, pela capacidade de saber, de razão, ele gerou seu contrário, a sujeição humana a forças impessoais. Não mais a forças sobrenaturais, da superstição ou da tradição, mas a forças sociais... 

Os eventos levam a repensar a segurança dos bens e a relativizar as representações culturais e teóricas sobre a vida social globalizada. A economia virtual ligada em redes, como bem discerniu Manuel Castells no livro A Sociedade em Rede, depende sempre de uma base física e pessoal. Diante da visão dos equipamentos e bens destroçados e dos problemas da energia que as cidades japonesas hoje enfrentam, as notícias sobre os índices Nikkei e as cotações de mercado da Nissan e da Toyota, parecem referir-se a outro mundo. As contas  relacionadas se fazem para trás, os prejuízos exponenciam. As diferenças sociais violentamente anuladas nas filas para obter alimento - exceto pelas porções desiguais de comida servidas a homens e mulheres, segundo os noticiários - dizem algo sobre nossos pressupostos, crenças e valores.

Neste momento, dá vontade de fazer a pergunta ingênua: se a vida é tão fugidia, uma vez perdida não tem volta, por que matamos tanto? E por que negamos a tantos, os meios de viver a vida em plenitude?

Acréscimo em 23 de fevereiro de 2013: 
Numa perspectva espírita, a vida é um intervalo de trajetórias humanas feitas de encarnações e desencarnações, numa linha que tende para cima, para uma evolução, para um progresso na realização das potencialidades previstas por Deus para seus filhos e filhas. As experiências da vida encarnadas são únicas, supremas, acarretam para o espírito em evolução responsabilidades sobre as quais não há como fugir. Nesse sentido, é sempre uma experiência sublime, única, dádiva associada a dever. O cumprimento do dever e a honra à dádiva recebida implicam tanto a busca de melhorar a si próprio, quanto a obrigação de intervir para melhorar o contexto, o bem para seus próximos e distantes. Mas é uma lição extremamente complexa de ser entendida. Das encarnações nada levamos fora o que contribui para a evolução espiritual. Mas são os interesses materiais e o apego à materialidade que ocupam o centro das preocupações. Daí nosso "pouco caso" pela vida comum; guerras sobrepujando a paz, concentração da riqueza comum em vez da preocupação com a sorte dos semelhantes. A morte banalizada. Vida que, ao contrário, é feita de múltiplos tempos e espaços, dádiva e dever, presente e responsabilidade de todos e de cada um.

2 comentários:

  1. Cristina,
    Essas perguntas me faço quase que diariamente. Chego a concordar com Hobes... mas o ser humano tem uma plasticidade que o leva do extremo egoísmo e maldade até à solidariedade e bondade plenas. A questão é que sempre parece que os primeiros estão sempre se sobrepondo aos segundos. Ou é uma percepção equivocada de minha parte?

    ResponderExcluir
  2. É verdade Ida, essa plasticidade é incrível. Veja só, ainda no caso do Japão, tem uns técnicos que ficaram próximo aos reatores atômicos, fazendo tudo para tentar evitar a explosão e para construir um meio de retomar a distribuição de energia. Eles estão, de fato, dando a vida, pois ninguém pode permanecer na área por mais de alguns minutos etc. Incrível a aplicação e a força desses caras.
    Beijinhos

    ResponderExcluir