Dentre as justificativas para a concessão do Nobel da Paz 2011, o presidente do comitê, Thorbjöern Jagland apontou:
'Não podemos alcançar a democracia e a paz duradoura no mundo a menos
que as mulheres alcancem as mesmas oportunidades que os homens para
influenciar o desenvolvimento em todos os níveis da sociedade'.
Tem
razão, claro, mas sob certo ponto de vista. Segundo o argumento, não se
trata de questionar a fundo o padrão de desenvolvimento, mas de
igualar as oportunidades de participar nele. Porém, justamente aí o
argumento reforça as desigualdades entre homens e mulheres. Não se
propõe a criticar o modelo de divisão sexual do trabalho que sustenta a
ordem econômica. Ao contrário, o problema é dar condições para as
mulheres participarem e, assim, se igualarem aos homens. E, de fato, são
os homens que reúnem as melhores condições para operar nessa ordem,
para se dedicar mais ao trabalho produtivo, à carreira, ao
empreendedorismo e à empregabilidade , posto que eles são liberados dos
cuidados com as pessoas, liberados das restrições culturais e
socializados para agirem no mercado, a sacrossanta arena das
liberdades.
As mulheres, portanto, precisam ter acesso às oportunidades de adentrar no modelo socialmente valorizado, que é o da atuação na esfera pública, no nível da economia, da política, da cultura, da vida social em geral. Ocorre, porém, que o modelo funciona porque a divisão sexual do trabalho e seus correlatos culturais asseguram que grande parte dos cuidados de que todos necessitam são assumidos no plano privado. Isto é, fazem parte dos atributos naturais da família e de seus membros mais talhados para a função, sobretudo as mulheres. Quando cuidados pessoais são realizados no mercado, além dos baixos preços atribuídos às funções pertinentes - exemplo, ensino infantil e fundamental, cuidados de saúe etc. - também incidem aspectos delicados em certas situações, como a qualidade da atenção dada a pessoas idosas e doentes.
As mulheres, portanto, precisam ter acesso às oportunidades de adentrar no modelo socialmente valorizado, que é o da atuação na esfera pública, no nível da economia, da política, da cultura, da vida social em geral. Ocorre, porém, que o modelo funciona porque a divisão sexual do trabalho e seus correlatos culturais asseguram que grande parte dos cuidados de que todos necessitam são assumidos no plano privado. Isto é, fazem parte dos atributos naturais da família e de seus membros mais talhados para a função, sobretudo as mulheres. Quando cuidados pessoais são realizados no mercado, além dos baixos preços atribuídos às funções pertinentes - exemplo, ensino infantil e fundamental, cuidados de saúe etc. - também incidem aspectos delicados em certas situações, como a qualidade da atenção dada a pessoas idosas e doentes.
Como
construir uma organização social e econômica que efetivamente traga
para o centro das atenções os cuidados com as novas gerações, com as
pessoas em geral, especialmente com as pessoas mais vulneráveis, assim
como as questões da produção e da vida plena para todos? Não como
questões de mulheres, mas como questões políticas, de políticas públicas
e de compromissos individuais e coletivos?
Como fazer interagir de maneira mais dinâmica os papéis sociais de
trabalhadores, de produtores e de cuidadores, aos quais todos nos
dedicamos com maior ou menor intensidade em diferentes momentos de
nossas vidas, sem que o exercício desses papéis seja fonte de desvalor,
de subordinação ou opressão? A velha separação entre público e privado
está aí para retirar de pauta boa parte dessas questões. Debates
enviesados sobre custos previdenciários da maternidade e da paternidade
muitas vezes esterilizam o significado social e cultural do que está em
jogo: que sociedade queremos? que organização social e econômica? e o
que queremos efetivamente que mude quando se reconhece os direitos das
mulheres como direitos iguais?
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