Na
Carta Capital, edição de 14 de setembro, uma importante matéria -
Laboratório de revoltas - expõe os índices de desemprego atual entre os
jovens na Europa, que têm servido de combustível para as revoltas de
jovens em grandes cidades, sobretudo em bairros de origem imigrante e
onde os níveis de escolaridade são menores. São redutos atingidos pelo
desemprego com especial vigor, mas evidentemente o fenômeno não se
restringe a essas áreas. Não recai, portanto, em "populações problema", que
teriam características peculiares que permitam localizar nelas o
problema. Os índices apresentados falam por si. Na média do continente
europeu, dados de julho de 2011, 20,5% dos jovens entre 16 e 24 anos
estão desempregados. Acima da média estão países como França, Polônia,
Portugal, Irlanda, Itália e, os piores, Grécia e Espanha,
respectivamente com 38,5 e 45,7%. Na Alemanha, cujo quadro geral não é
tão ruim - 9,1% - em uma região considerada rica do país, 54% dos jovens
desempregados estão nessa situação há mais de um ano.
Estudos
indicam a dureza que é enfrentar longos períodos de desemprego no
início da vida ativa. Documento da OCDE aponta que "jovens que encontram
dificuldades na obtenção do primeiro emprego tendem a enfrentar
problemas para conseguir vaga pelo resto da vida profissional".
No
contexto brasileiro, penso em duas políticas relacionadas aos esforços de gerar empregabilidade para os jovens: as bolsas de
estudo para ingresso na universidade e as quotas de vagas para
estudantes de meios desfavorecidos. Elas inscrevem-se na perspectiva de
focalizar categorias que sentem mais dificuldades de inserção
profissional, pelos obstáculos maiores à entrada no ensino superior e
pelo fato de que seu capital social (redes de relações) tende a ser
menos produtivo em "indicações" ao emprego ou oportunidade de trabalho.
Além das estatísticas de desemprego e subemprego, exibimos no Brasil as dolorosíssimas estatísticas de jovens presidiários, envolvidos com tráfico, com depredação de patrimônio público, com violência. Sinais de exclusões ao longo de suas vidas, negação de direitos em muitas circunstâncias. As imagens nos jornais de jovens cheios de vida, inteligências e talentos dilapidados, de cócoras em pátios de prisões, são eloquente testemunho do desencontro entre desenvolvimento e juventude. Fala-se em inovação, o que é super pertinente. Mas, também, quanta capacidade de inovar está sendo perdida com essa máquina trituradora econômica e social que incide sobre tantos jovens, todos os dias. A despeito de projetos extraordinários implementados de norte a sul, por comunidades, grupos, governos, na área de educação, de inclusão social de várias formas, o respeito à cidadania social permanece direito central, isto é, chances pelo menos aproximadas de estudar, de brincar, de fazer esporte, de sonhar etc. etc.
Muita
inventividade e empenho são requeridos para enfrentar o problema da falta de oportunidades para jovens, à
altura. Na Europa, as medidas de austeridade para combater a recessão atingem em
cheio essa camada da população. A OIT recomenda políticas que focalizem a criação de
empregos a jovens, dada sua sensibilidade ao ciclo econômico: "são os
primeiros a perder postos quando a economia piora e os últimos a
conseguir trabalho quando há crescimento". Programas de treinamento,
aprendizagem e crédito para novos empreendedores são sugeridos. No Brasil, tem-se ainda que focalizar essa massa de jovens que já caíram nos descaminhos da vida. Devemos isso a eles.
Trabalhei em uma escola grande da periferia de Belém e sempre me questionava sobre o futuro daqueles jovens. São muitos. A ausência de políticas públicas para a juventude transforma o potencial em massa abandonada pela falta de perspectiva na vida.
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