Para onde caminham as sociedades e as economias neste início de século? A idéia de progresso já perdeu o sentido faz tempo. Foi trocada pela crença na possibilidade do desenvovimento para todos. (Ver Declaração da ONU sobre Direito ao Desenvolvimento) Esse ideário também já enfraqueceu muito, mas ainda se fala, meio sem jeito, na partição do mundo entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, como que a relembrar de nossa capacidade ou interesse em forjar um destino comum para os habitantes do planeta, destino melhor, é claro. O sentido dessa distinção está meio enveoado, não se vê luz no fim do túnel que aponte um caminho plausível para todos, como manifestantes gritam em praças mundo afora. O esgotamento do ideário desenvolvimentista não é algo a lamentar por si só. Porque também não seria mais uma obrigação de caminho a ser seguido. O direito de escolha, o direito à diferença e, consequentemente, o direito de levar o tipo de vida que se considere digno de ser vivido (nas palavras de Amartya Sen), poderia ser um ingrediente central. Valores desse tipo fermentam as idéias de desenvolvimento sustentável, socioambientalismo, democracias participativas, multiculturalismo e autonomia.
Mas, a inextricabilidade dos destinos nacionais continua firme, nas relações econômicas e políticas, na diplomacia e na falta que ela faz nas muitas guerras e conflitos bélicos. A "locomotiva" da China e suas repercussões nos ritmos de atividade econômica, a crise, que foi hoje pela manhã expressa na fala da presidente do FMI de que as economias emergentes não vão passar imunes... Continuamos no mesmo barco. Porém, como indica o belo artigo de Luiz Gonzaga Belluzo (A crise como ela é), retornamos ao velho ideário liberal da autoregulação pelo mercado, que Karl Polanyi analisou com maestria no livro A Grande Transformação. As palavras de Beluzzo merecem destaque, pois ele mostra que a aceitação fácil das idéais subjacentes aos remédios liberais bloqueia a criatividade na busca de soluções novas.
"... o cidadão atropelado pelas erráticas e aparentemente inexplicáveis convulsões da economia não acredita no controle de seu próprio destino. As medidas de combate às crises, por exemplo, são capazes de destruir suas condições de vida, mas o consenso dominante trata de explicar que, se não fora assim, a situação pode piorar ainda mais. A formação desse consenso é, em si mesmo, um método eficaz de bloquear o imaginário social e promover a paralisia política, numa comprovação dolorosa de que as formas objetivadas da economia adquirem dinâmica própria e passam a constranger a liberdade de homens e mulheres". (Carta Capital, 14/99/2011)
O preço desse bloqueio (político e cognitivo) quem paga somos todos nós, que temos em comum o desejo de
construir, no tempo que nos é dado viver, uma vida digna, boa, produtiva, com quem se ama, seja numa
aldeia no Xingu, seja no deuxième arrondissement em Paris.
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