No inicio de Genesis há duas narrativas sobre a criação. Quando se referem ao homem e à mulher, a primeira - que detalha os sete dias - é bem resumida: "E Deus criou o ser humano à sua imagem (...) macho e fêmea os criou". (Gn 1, 27). A segunda narrativa traz o relato da mulher formada de um dos lados do homem, que exclamou: "Esta sim é osso dos meus ossos e carne da minha carne!". E conclui o texto: "... estavam nus e não se envergonhavam." (Gn 2, 22-25)
Segundo a versão da Bíblia que estou lendo, são releituras da mitologia assírio-babilônica pelos povos hebreus em suas lutas contra as opressões q viviam.
Séculos de história consolidaram a leitura desses textos como justificativa da posição subalterna da mulher. No entanto, é também clara um tônica de reciprocidade e dignidade de ambos. A universalidade da condição de filhos e filhas de Deus em um mundo já marcado por impérios expansionistas, é destacada. E a mulher é recíproca do homem, enfim, "uma só carne". Ambos estavam para usufruir do Éden.
O mundo nessa leitura é visto em termos de equilibrio dinâmico e supõe-se que as caracteristicas fisiologicas de ambos os sexos não dariam lugar a desigualdades, pois eram parte da ordem natural. Gravidez, menstruação, força física... São partes de um mundo a ser usufruído em comunhão.
As instituiçoes politicas, históricas fariam outras narrativas e releituras, consagrando a desigualdade de gênero. Infelizmente as proprias igrejas legitimariam esse princípio em suas caminhadas, mas há importantes mudanças em curso.
Por isso, vale reler essas páginas de nossos simbolos de origem. Lá estão os sentidos mais fortes de nossa condição, para além das mesquinhas instituições que criamos. Luberdade, igualdade e dignidade.
Os que escreveram as narrativas do Genesis exprimiram o Verbo, a Palavra de Deus. Somos seres iguais em direitos e no dever de cuidar da vida.
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