O sentimento de alívio com o resultado do plebiscito mal se define e me vem à mente dois episódios durante a minha atual procura por uma empregada, ocorridos um na semana passada e outro no último sábado. Duas candidatas entrevistadas, uma residente na Terra Firme e outra ao final do Quarenta Horas não aceitaram a oferta. A justificativa que apresentaram foi exatamente a mesma: suas casas ficam longe do ponto de ônibus. Como em alguns dias a jornada vai até 19:30, ambas alegaram que nesse horário é muito perigoso fazerem o trajeto do ponto à casa.
Não é surpresa entre nós, em muitas cidades brasileiras, esse tipo de barreira. Mas, de todo modo, se a gente parar para pensar, é sempre chocante. Uma baita limitação à livre circulação. Em Toronto, no Canadá, as mulheres conquistaram o direito, a partir de uma certa hora da noite, de solicitarem aos motoristas de ônibus para pararem onde elas querem descer, ao longo do percurso do ônibus, mesmo que seja fora do ponto. Descendo mais próximo do destino, evitam se exporem a assédios.
Longe, tão longe do Canadá, as pessoas por aqui se acostumam a esses limites cotidianos que usurpam um direito humano tão básico, todo dia, minando a própria idéia de que se tem aí a negação de um direito. É um toque de recolher discreto, sem nome.
Os dois pequenos casos que presenciei podem não ser "representativos", afinal tantos trabalham até tarde, tantos estudam, enfrentam as barreiras e conseguem uma ascensão social. Mas, parte do preço que pagam é desprovido de razão, é irracional como muitos aspectos da nossa urbe.
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