Como toda cidade, Ciudad del Este, do outro lado da "Ponte da Amizade" que liga Brasil e Paraguai, tem seus encantos e seu charme. Mas, para a maioria dos visitantes de curta duração, os encantos parecem resumir-se a um foco bem preciso: comprar, vender, trocar, barganhar, as funções de uma praça de mercado. O percurso a ser visitado resume-se a algumas poucas ruas; dependendo do tempo de que se dispõe, pode-se limitar apenas à primeira rua, que segue ao se atravessar a ponte. A vida cultural própria dos que lá moram e trabalham, não se apresentam ao visitante breve, como foi meu caso em julho passado.
Partindo de Foz do Iguaçu, pode-se chegar à Ciudad a pé, de carro, ou em ônibus urbano. Para quem mora longe de uma fronteira entre países, é uma surpreendente sensação atravessá-la assim, pegando um ônibus no ponto, como se vai ao outro lado da cidade visitar alguém, trabalhar, passear... Apesar do aperto do ônibus lotado, olhar aquele tráfego intenso, tantas pessoas cruzando a ponte, não pude deixar de pensar no que seria um mundo de fronteiras suaves, abertas à circulação de pessoas, de idéias, de costumes, de afazeres. Fronteiras permeáveis que, por isso mesmo, fomentariam trocas e sociabilidades sem anular as diferenças e as identidades culturais, ainda que não as deixassem imunes, como é próprio das culturas. Um mundo ainda mais perfeito se os passantes transfronteiriços circulassem livres de estruturas de exploração econômica, armadilhas nas quais tantos migrantes pelo mundo são apanhados, sem contar os preconceitos.
Partindo de Foz do Iguaçu, pode-se chegar à Ciudad a pé, de carro, ou em ônibus urbano. Para quem mora longe de uma fronteira entre países, é uma surpreendente sensação atravessá-la assim, pegando um ônibus no ponto, como se vai ao outro lado da cidade visitar alguém, trabalhar, passear... Apesar do aperto do ônibus lotado, olhar aquele tráfego intenso, tantas pessoas cruzando a ponte, não pude deixar de pensar no que seria um mundo de fronteiras suaves, abertas à circulação de pessoas, de idéias, de costumes, de afazeres. Fronteiras permeáveis que, por isso mesmo, fomentariam trocas e sociabilidades sem anular as diferenças e as identidades culturais, ainda que não as deixassem imunes, como é próprio das culturas. Um mundo ainda mais perfeito se os passantes transfronteiriços circulassem livres de estruturas de exploração econômica, armadilhas nas quais tantos migrantes pelo mundo são apanhados, sem contar os preconceitos.
Passada a Ponte, salvo aqui e ali a visão de algum carro encostado com porta-malas aberto para fiscalização, a entrada na cidade era livre; pelo menos, nos limites da cidade, sem adentrar no território do país para além de uma certa distância, para o que era necessário procurar a agência de imigração localizada logo na chegada.
Então, minha primeira impressão em Ciudad foi uma gostosa sensação de entrar em um país assim, sem burocracia. Já na cidade, um grande burburinho, muito parecido com as ruas de comércio popular Brasil afora, apinhadas de gente. Ao longo da primeira avenida, uma verdadeira divisão de trabalho e de classes sociais. Nela localizam-se os muitos shoppings grandes, médios e pequenos, além de inúmeras barracas, coladas umas às outras, que disputam alguns nichos de mercado (sobretudo roupas, cama, mesa e banho). Alguns shoppings super organizados, luxuosos mesmo. O trânsito de veículos é aparentemente caótico, com incontáveis vans, automóveis e ônibus. Entre veículos e barracas, incontáveis vendedores ambulantes oferecem uma miríade de produtos entre meias, bebidas, salgadinhos, pães, relógios, óculos, CDs e DVDs. A eles somam-se uns quantos jovens perguntando a quem desce do ônibus o que procuram, sugerindo lojas de eletrônicos, dispondo-se a acompanhar o cliente até o estabelecimento etc., etc.
Além da surpresa de quase só ouvir português, bem falado mesmo entre paraguaios, muitos falavam guarani. Tirando o guarani nas ruas e alguns tomadores de chimarrão, tudo o resto parecia igual: um grande entreposto de artigos chineses. Uma concentração de pessoas em torno dos importados, quase todas carregando suas compras nos inevitáveis sacolões quadrados de plástico. A divisão de classes também se expressava entre os compradores, muitos dos quais comprando produtos para revender nas "feiras do Paraguai" em cidades brasileiras.
Olhando assim, Ciudad parecia um não lugar: cidade sem qualquer identidade com sua região, ligada aos fluxos mercantis globais, apenas assentado naquele espaço físico. Nos shoppings, é claro, maior ainda a sensação de se estar suspenso dos vínculos culturais a um lugar. Na rua, a aparente desordem e as muitíssimas pessoas em busca de ganha pão com pequenas vendas indicam ao visitante tratar-se de uma zona comercial de país "em desenvolvimento". Pareceu-me uma visão de um típico elo periférico na "economia em rede". Pode-se comprar bem, fazer bons negócios com produtos baratos e variados; para muita gente, oportunidade de se abastecer em produtos para vender no Brasil, embora com riscos conforme a severidade da fiscalização na alfândega. Mas, assim, não se chega a conhecer outra sociedade e outra cultura. Os contatos com as pessoas centram-se nos objetivos comerciais de ambas as partes. Apenas se experimenta, nesse turismo breve, uma função particular da economia de fronteira, um espaço específico das transações de nossa própria cultura global.
Em suspenso do lugar (local) e imerso no global. Realmente é isso que a gente sente nessas fronteiras de troca, como a que vc cita. Talvez nos espaços privados, nos lares, nas vizinhanças a sensação seria diferente. Ou quem sabe é o nosso olhar que está voltado para "!as trocas"!?
ResponderExcluirVocê tem razão nesse sentimento de suspenso do lugar e imerso no global, sem mediações. A experiência vale a pena, é claro. E, também, é a experiência de alguém de fora. Há todo um mundo de relações sociais que estruturam as trocas frenéticas de uma zona franca. Grata pela visita.
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