quinta-feira, 10 de março de 2011

Sobre a comunidade brasileira na Guiana

Dados de 2005, analisados  por Stéphane Granger*, davam conta de que  os brasileiros representavam cerca de 10% da população da Guiana.   
Eram sobretudo migrantes "econômicos" conforme a classificação
comentada na postagem de 9 de março. 
Essa imigração teve início com a construção do Centro Espacial de Kourou,  
quando as autoridades francesas, diante da escassez de mão de obra local, 
recrutaram, a partir de 1964, centenas de brasileiros, que em grande parte 
ficaram na Guiana após o fim do contrato. 
A eles foram se juntar milhares de outros compatriotas. 
Uma operação franco-brasileira de repatriamento, em 1974, fracassou. 
 
Os migrantes brasileiros estavam atrás em número apenas dos haitianos
e se caracterizavam pelos seguintes aspectos, segundo Granger: 
- intenção de permanecer apenas o tempo de amealhar um pecúlio 
e voltar para casa;
- mesmo após uma expulsão, muitos retornavam à Guiana;
- reputação de saberem "se virar" e de serem qualificados marceneiros, 
carpinteiros navais, mecânicos, eletricistas, garimpeiros, pescadores, 
artesãos, cozinheiros e em trabalhos diversos (neste caso sobretudo 
aqueles em situação irregular);
- as mulheres, segundo dados oficiais, tinham taxas de ocupação inferior 
às dos homens e sofriam mais com o desemprego; 
- como no Brasil, a declaração de estar desempregado não impedia 
de trabalhar "no que der certo".
 
Segundo a analista, um forte individualismo marcava essa comunidade
brasileira que se considerava de passagem na Guiana. Assim, seus 
membros procuravam alcançar seus objetivos e 
ir embora, o que redundaria em certa ausência de solidariedade. 
Os haitianos, ao contrário, caracterizavam-se por solidariedade de grupo
e uma densa rede de associações. 
 
* GRANGER, Stéphane. La population brésilienne en Guyane, entre affirmation
et intégration.
Revue Guaiana, Spécial Brésil. Novembre 2005.

Um comentário:

  1. Interessante o individualismo ser nossa característica. Isto mostra que estamos muito distantes da solidariedade...

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