Ainda a propósito dos conselhos de segurança para motoristas em Belém. Eles de certo modo espelham nossa estranheza coletiva, que leva quem pode a se esconder, a se camuflar por detrás dos vidros escurecidos dos automóveis particulares. Essa atitude social, essa sociabilidade ao avesso, é também decorrente do modo como ocupamos essa porção do espaço urbano que são as vias de trânsito, com muitos veículos conduzindo poucos e transportes coletivos conduzindo muitos com margens de segurança perigosamente baixas. Cotejando-se matematicamente a relação superfície ocupada pelo veículo e número de passageiros que conduz, vê-se que nesses espaços públicos as desigualdades são de monta e a democracia no seu usufruto passa longe. Como se sabe, essa contabilidade espacial também explica a naturalidade que se materializa na forma de conselhos emitidos pela autoridade pública para os cidadãos se protegerem da violência. Eles têm seus correlatos nas recomendações sobre horários para sair, cuidado com bolsas, bolsos etc... São como conselhos para a guerra. Mas cujos combatentes inimigos são moradores da mesma cidade. Nestes tempos de paz civil, é muito difícil admitir que tais conselhos já são parte da cultura urbana.
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