Com um misto de surpresa e de tristeza ouvi há cerca de dois dias no noticiário televisivo em Belém, um conselho dado por uma autoridade policial referente aos cuidados que se deve tomar ao dirigir na cidade, tendo em vista evitar os assaltos e os sequestros de motoristas, os quais costumam ocorrer, segundo as estatísticas, entre 6 e 10 da noite e atingirem mais frequentemente motoristas mulheres que homens. Dentre os conselhos de segurança, além do conhecido "não deixar a janela aberta" - fechar-se para o mundo ao redor, contribuir para o aquecimento global com o uso suplementar de combustível para manter o ar condicionado, ampliar o fosso de comunicação entre os incluídos e os "outsiders", dentre os quais jovens malabaristas, pedintes, vendedores diversos... - houve também a recomendação do uso de películas nos vidros. As películas, que frequentemente são mais escuras do que o limite legal permitido, passam a ser consideradas itens de segurança, ao mesmo tempo em que, por outro lado, reduzem a visibilidade do motorista, retiram do pedestre indicações preciosas sobre a direção para a qual o motorista está olhando, com a qual comumente baliza uma decisão de atravessar a rua ou esperar. É claro que as razões dos conselhos são mais do que compreensíveis, muito embora não deixe de ser estranha a concordância oficial com um tipo de atitude que, embora proteja o condutor e os passageiros, como é o caso do uso da película, também acarreta insegurança sob outros pontos de vista. Enfim, trata-se de se resignar com uma postura que traz um quê a mais de barbárie nas nossas ruas cotidianas, de causas complexas mas identificáveis. Nossa tolerância é grande com a estranheza coletiva do dia a dia!
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