Discursos racistas, de superioridade, anti-sociais, contra polítiticas distributivas de renda são próprios de quem nunca ou pouco passou necessidade na vida. De quem pensa que os privilégios que se tem são mérito. Mas, quem escolhe onde nasce? Esquecemos fácil que tudo que sem tem - dinheiro, saúde, oportunidades... - é graça. Portanto, o ter deve acompanhar-se de responsabilidade, de esforços para frutificar esse ter, é claro. Mas, sobretudo, de senso de gratidão e, portanto, de buscar o melhor uso dos talentos e haveres, para o bem maior. É como um "dever dos bens". Inclusive, porque tudo o que temos hoje, tudo que conhecemos, individual e coletivamente falando, é fruto do trabalho e do labor de tantos, gerações e gerações.
Nossa sociedade usa os bens para excluir. Em muitas situações, não ter dinheiro, é ser menor, cidadão inferior. Quantas sociedades, ao contrário, reconhecem nos bens a expressão da participação dos demais, fruto da divisão social do trabalho?
Estava ouvindo o discurso horroroso do Trump e me lembrei de uma mistura de Mauss, Malinowski, Marx (fetichismo da mercadoria), de alguns escritos do apóstolo Paulo chamando a atenção sobre nosso autoengano do mérito próprio e o esquecimento da graça, de que no fundo somos todos recebedores e, portanto, devedores.
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