Ultimamente as piadas, pelo menos na TV, têm se voltado com especial frequência para as mulheres feias. Fazer piada sobre atributos corporais não é novo. Remonta ao nascimento das piadas. Mas, por que as feias entraram em alta agora no mundo das piadas para o grande público? Nem imagino. Tivemos há pouco o caso Rafinha. Ontem, as feias ganharam novo holofote, embora o conteúdo nada tenha a ver com a imbatível marca de mau gosto da piada sobre o estupro, que até na categoria humor negro era ruim.
No quadro Stand up nosso de cada dia, no programa Fantástico do último domingo, o assunto era "cantada de rua". A comediante Micheli Machado iniciou sua fala - que, diga-se de passagem, teve momentos de humor fino - com a seguinte questão:
Por que é que todo homem na rua olha pra toda mulher que passa? Se fosse só pra mulher bonita, ainda vai, porque a gente também olha pros homens bonitos. Mas homem não, homem não seleciona, teve peito e bunda, já está olhando. Olha. É bonita, é feia, tribubu, exótica...
Admite-se que esse tipo de observação dá humor, há quem goste. Mas, nessa lógica, se os homens não discriminam no olhar de macho, por que a moça se incomoda com isso? E, a julgar pelos risos, agradou. Pena. Por que não ser mais democrático no gosto?
Não pude deixar de lembrar dos quadros envolvendo anões, também um antiquíssimo recurso para fazer rir. Sempre me provocou um sentimento misturado, mais incômodo que graça. Sei que isso dá emprego, chances de aparecer, diverte alguns, certamente muitas justificativas existem para usar anões em papéis ridículos. Mas, no fundo, desconcerta, porque o engraçado aqui é a imposição, ou validação da característica da maioria sobre a minoria. Embora neste caso, trata-se da maioria em sua condição de massa, de gado.
A gente não precisa lembrar sempre da vida real ao escutar uma piada. Tira toda a graça. Por exemplo, lembrar de cenas na rua de homens cujos olhares para outros passantes, sejam homens ou mulheres, não são apenas elogiosos ou engraçados, mas também debochados, quase agressivos, quase uma reprovação a determinado modo de se trajar, ou andar. E esse olhar pode se traduzir na liberalidade que o olhador se dá de tocar, até de "passar a mão" em uma pessoa desconhecida. Prática triste. Concordo que certas realidades não precisam ser lembradas e interferir no consumo da piada. Basta rir. Mas bem que as piadas podiam ser um pouco mais imaginativas!
Não gosto desse tipo de piada que desqualifica o outro por qualquer motivo que seja. Há todo tipo de piada com relação à deficiência física. De péssimo gosto, diga-se de passagem.
ResponderExcluirMas o humor de massa geralmente é over, para que todos possam entende-lo, fazendo alusão ao querido Simmel.
Quanto à beleza, ela é tão relativa. Mami sempre me diz que, aquele que ama o feio, bonito lhe parece. Viva o olhar generoso do sexo masculino! kkkkkkkkkk