Achei super interessante esse exercício de cálculo sobre o valor da produção extrativa sustentável. É claro que a perspectiva da renda não explica tudo. A relação que as pessoas que vivem e trabalham no meio florestal podem ter com seus produtos, ultrapassa o aspecto monetário. Há ligações afetivas, noção de patrimônio para os descendentes, enfim, dimensões que escapam a quem utiliza a floresta como recurso, apenas como meio de investimento e não de vida. Mas, de todo modo, a expressão monetária dos produtos afigura-se fundamental, pois justamente a falta de acesso a mercado, a desvalorização dos preços por força da infraestrutura deficiente, somada à precária segurança e qualidade de vida, constituem poderoso estímulo ao desmatamento. E, portanto, aos conflitos que tornam o Pará campeão de mortes no campo. Vamos aos números, que estão disponíveis em:
http://racismoambiental.net.br/2011/06/vamos-olhar-os-numeros/
Por Denis Russo Burgierman
"Uma castanheira-do-pará é uma árvore gigantesca, de 50 metros de altura, que pode viver mais de 1.000 anos. Todo ano, a castanheira dá frutos, que têm uma casca dura como a de um coco. Dentro da casca há até 24 castanhas-do-pará, um produto apreciadíssimo no mundo inteiro, rico em selênio e em ômega-3, portanto extremamente eficaz para combater ao mesmo tempo os dois grandes vilões da saúde contemporânea: câncer e doença cardíaca. Na média, uma castanheira não muito grande dá cerca de 30 frutos por ano, o que equivale a quase 500 castanhas. É o suficiente para produzir 1,5 litro de óleo de castanhas, o que rende uns 200 ou 300 reais para um pequeno produtor, por árvore (castanheiras realmente grandes e saudáveis chegam a produzir até 20 litros). Supondo que alguém tenha 30 castanheiras nas sua terras, são pelo menos uns R$ 6 mil por ano em óleo, talvez R$ 10 mil, por toda a eternidade até o tataraneto do tataraneto do tataraneto.
Mas os tempos são de prosperidade no Brasil e os chineses precisam de ferro para construir réplicas da Torre Eiffel. Há inúmeras mineradoras arrancando ferro de dentro da terra, de maneira agressiva. Em boa parte do país, esse ferro, assim que sai do chão, é queimado em fornos a carvão. Na Amazônia, portanto, há uma grande demanda por carvão.
O que acontece então é que os madeireiros procuram os pequenos proprietários da Amazônia e oferecem algo como R$ 150 por cada castanheira. Se o sujeito tiver 30 castanheiras, recebe cerca de R$ 5 mil. O madeireiro vai lá, derruba a castanheira, picota-a, queima, faz carvão, constrói fornos lá mesmo e produz ferro. O dono dos fornos ganha uns R$ 2 mil por forno por mês. Com algumas dezenas de fornos, ele é um homem rico.
Zé Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, os empresários e ambientalistas mortos na semana passada perto de Marabá, no Pará, sabem fazer conta, e por isso se recusavam a vender suas castanheiras (não só por isso, eles também amavam aquelas árvores, mas não é hora para emocionalismos). Eles mantiveram as árvores de pé e montaram uma pequena operação industrial para extrair o óleo na sua terra. O governo nunca lhes deu apoio nenhum. O Incra é imensamente burocrático e ineficaz. As estradas são terríveis. É por causa dessas dificuldades todas que muitos dos vizinhos venderam suas castanheiras para virar carvão."
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/denis-russo/politica/vamos-olhar-os-numeros/.
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